“Super-homens” e “super-mulheres”. E por que não “super-crianças”? Parece que esta geração de pais e crianças é uma geração de “super”.
É preciso “fazer”, é preciso “ter muito” dinheiro, capacidade, conquistas, poder, etc. Neste corre-corre de aula, banco, loja ou semáforo esquecemos a nossa vida? E nossos filhos, esposas e maridos, amigos, empregados? Estão vivos ou mortos? Sobrevivências, sobrevivida, e o que resta quando a vida verdadeira já foi embora?
As pessoas não têm dificuldades para encontrar parceiros sexuais, porque as mudanças na sociedade passaram a aceitar esta forma de relacionamento humano, mas e o afeto, o encontro, o abraço verdadeiro? Nesta geração “fazer isto”, “fazer aquilo”, “ter isto”, “ter aquilo”, esquecemos quem realmente somos e como é “estar” com os outros.
Quando acabamo de fazer a última tarefa ou de adquirimos o último objeto desejado, nos deparamos com uma sensação de vazio e, dizem alguns, com a sensação de “estar neutro”, sem sentimentos. E como reagimos a este vazio? Cada um de acordo com suas histórias de vida, suas aprendizagens, condições socioeconômicas e culturais, etc. Cada um preenche o vazio de uma forma que lhe própria: um novo hobbie, uma aquisição, um novo parceiro sexual, horas a mais de trabalho, um novo médico, uma seita, um antidepressivo, uma droga. Tudo isto para ajudar a segurar a vida que escapa de nossos corpos em cada esquina.
Trabalhamos tanto e temos casa vez menos, buscamos tantos parceiros que estamos cada vez mais sozinhos e angustiados, estressados. Buscamos, buscamos, buscamos… Não aguentamos mais sermos super-homens, super-mulheres, super-crianças. Acordemos.
Corpo, Sensibilidade, Movimento. Eu. O Outro. Existência. Toque. Relacionamento. Recuperar nossos corpos, nossas sensações, nossas emoções, através de jogos, buscando novas formas de comunicação além da verbal.
Esta é a proposta da Análise Corporal da Relação, desenvolvida pelos analistas corporais Leopoldo Vieira (Brasil) e Anne Lapierre (França), do Centro de Análise Relacional, que compartilham como casal de analistas a responsabilidade da condução deste processo de análise, ambos membros do Comitê Científico da SIAC (Sociedade Internacional de Análise Corporal) da França.
Aeroporto 2000, Jornal Nº 10 – setembro de 1996.
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