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Psicomotricidade Relacional na Educação Infantil

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É imprescindível refletir sobre a missão do profissional da área de educação, sobremaneira daqueles que atuam na faixa etária da educação infantil. Repensar a comunicação afetiva, em que estão envolvidos esses professores no labor cotidiano com os educandos, é um chamamento da Psicomotricidade Relacional, ferramenta de trabalho a marcar significativo diferencial pelo modo de abordar as relações e o desenvolvimento humano.

Em sala de aula, ou fora dela, ao educador atento aos objetivos e metas pretendidos, torna-se fácil interpretar os mecanismos das crianças a respeito da realidade e da expressão de um corpo orgânico, anatômico, fisiológico, biomecânico. Contudo, sob a ótica relacional, é preciso reconhecer que ninguém se reduz a um corpo que se “treina” ou e a uma mente que se desenvolve.

O corpo de cada criança é sua presença no mundo. É o espaço em que vive, sente, percebe. O lugar de sua identidade. A sede de seus investimentos afetivos – positivos e negativos – a se manifestarem na dialética da comunicação entre si e os outros.

Face às infinitas manifestações da afetividade na sede material (corpo) de cada criança, cabe ao educador lançar um olhar além dos sintomas, isto é, além do que se expressa, pois, como é sabido, muitas vezes o essencial é invisível para os olhos, consoante o dizer do pensador francês, Saint-Exupéry.

A Psicomotricidade Relacional preconiza: há que se escutar o que não é dito. No processo de aprendizagem, a criança frequentemente “fala” de um sentimento que não encontra outra forma de expressão a não ser por meio da dificuldade no fenômeno de aprender, e/ou das tensões conflituais com quem convive. Tal sentimento, não encontrando espaço para se externalizar, acaba sendo somatizado, pois, não raras vezes, é preciso adoecer o corpo a fim de se conseguir o que é difícil de ser reivindicado ou pedido.

O profissional da educação engajado na relação de ajuda é capaz de fazer esse tipo de escuta. Precisa, porém, aprender a responder também corporalmente, por intermédio de uma atitude de empatia corporal, sem a necessidade de recorrer a palavras vezes tantas vazias de significado, de conteúdo afetivo, consciente, autêntico.

A comunicação corporal é carregada de valores e componentes emocionais, sobretudo na fase da educação infantil, em que gesto, olhar, tônus muscular falam de sentimentos, de medos, desejos, conflitos, ou seja, revelam o imaginário consciente e inconsciente. A gestualidade não é a simples reação nervosa a estímulos. É a resposta do corpo ao mundo. É a representação da vida em si mesma. A prática profissional nos tem mostrado que a atitude morfológica é apenas o espelho a refletir ou expressar a atitude psíquica diante da vida.

Em sua trajetória de descobertas do método da Psicomotricidade Relacional, seu criador, André Lapierre, afirma: Flexibilização articular, desenvolvimento seletivo de certos feixes musculares são apenas paliativos cuja influência sobre a morfoestática é provisória e aleatória. A suavização ou reeducação da atitude habitual não é condicionada pela força muscular, e sim pelo tônus da postura, o qual encontra-se relacionado com o tônus psicoafetivo, regulado pelos centros subcorticais, no nível inconsciente (Lapierre, 2002).

Dificuldades na aprendizagem (falta de motivação, agressividade exarcerbada, hiperatividade, falta de atenção e outras) são, quase sempre, reflexos de sintomas emocionais, funcionais, psicossomáticos. São a sintomatização decorrente de situações mal vividas na relação afetivo-emocional familiar. São, até mesmo, reflexo de uma relação transferencial negativa entre aluno e professor.

Nesse sentido, pode o profissional da educação escolher: ou apaixonar-se por essa possibilidade libertadora e ser capaz de autênticas relações de ajuda no dia-a-dia com os educandos, ou estabelecer uma comunicação vazia de afeto, de investimentos positivos, repetindo modelos estereotipados de comportamento baseado numa visão organista e mecanicista, conformando-se em seguir programas escolares engessados, correndo inclusive o risco de esclerosá-los, protegido em sua onipotência de adulto.

Autor: José Leopoldo Vieira[pb_builder]