Matéria disponibilizada no dia 12/10/2013, em http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1327198
Os pequenos de hoje dão preferência a objetos tecnológicos; especialista explica a importância de brincar. No mês de outubro, as lojas enchem suas prateleiras com os “brinquedos dos sonhos” e os pais preocupam-se com o que dar aos filhos. A movimentação em busca do presente ideal é a mesma todo ano. O que não permanece igual é o perfil dessas crianças, que cada vez mais preferem brinquedos informatizados. No entanto, o importante é soltar a imaginação e viver a brincadeira.
Brincar é uma atividade essencial para a existência humana. É por meio dela que se aprende sobre a realidade e sobre si mesmo. Através disso, a criança desenvolve capacidades importantes como a imaginação, a concentração e a atenção, além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia. Segundo a diretora do Centro Internacional de Análise Relacional (Ciar), Isabel Bellaguarda, a brincadeira tem uma função fundamental, estando ligada ao plano emocional, cognitivo e social. “Quando o brincar é associado ao aprendizado, as atividades realizadas pela criança acontecem de forma muito mais leve”, avalia.
O que os especialistas observam é que a infância tem se tornado diferente. Há alguns anos, o brinquedo era o carrinho de madeira, a boneca de pano, a corda, o elástico, que deram lugar aos tablets, computadores, videogames e outros objetos tecnológicos. Isso acabou gerando preocupação quanto às necessidades psicomotoras e sociais do futuro adulto.
“As antigas brincadeiras, como as de correr, pular, não foram esquecidas. Apenas deixaram de ser estimuladas pela falta de espaço e em função das tecnologias”, explica Isabel. Dessa forma, acaba sendo prejudicial por não exigir a capacidade criativa e imaginativa dos pequenos.
“Acompanhamos muitos casos de crianças com sintomas de alto estresse, agitados, inseguras, com problemas no comportamento. Isso vem se tornando frequente porque, em casa, a tensão só cresce sem que possa ser descarregada com ações”.
A troca das brincadeiras que exigiam esforço físico, convivência com outras crianças, pelos brinquedos informatizados que não dão vazão à experimentação e ao maior relacionamento provoca a não elaboração da relação com o outro, com a realidade, com o perigo. Para Isabel, “o produto do mundo moderno acaba restringindo as crianças em espaços, sem que elas possam desfrutar da convivência”.
Ainda existe a problemática da falta de tempo para brincar. Curso de línguas, informática, balé, judô, natação são afazeres cada vez mais corriqueiros na rotina das crianças. “Os pais, levados pela ansiedade de promover o sucesso social dos filhos, acaba sobrecarregando-os com atividades”, explica a psicóloga. Segundo ela, é importante que haja atividades para o desenvolvimento social, embora seja de maior valia que a criança esteja em contato com outra, já que o brincar é fundamental.
Simplicidade
Mas, a situação pode ser bem diferente do que costumeiramente vemos. A empreendedora social Mayara Ripardo, mãe de um bebê de um ano e três meses, é uma incentivadora dos jogos e brincadeiras lúdicas. “É muito importante trazer, para o universo da criança, o real”, conta a mãe, que apoia as brincadeiras simples do que as informatizadas. “A criança gosta do contato com a natureza, com as atividades que gerem convivência com outras”.
Isabel Bellaguarda explica, ainda, que a criança tem grande poder de adaptação. A necessidade de brincar faz com que ela se adapte rapidamente a qualquer tipo de brincadeira, o que dá espaço para que ela possa, sem danos, usar jogos informatizados individuais, como também uma dinâmica de grupo. O valor do brincar é imensurável para diversos setores. “É a partir das atividades realizadas na infância que se aprende a esperar, a saber respeitar a vez do outro e esperar a sua vez, a lidar com angústia e perdas, a dominar frustrações”.
Necessidades
Para cada idade, há uma necessidade diferente para aprimorar o conhecimento através da brincadeira. Do nascimento aos 2 anos, a criança vai adquirindo competências motoras e aumentando a autonomia. Prefere o chão ao berço, demonstra alegria nas tentativas de imitação da fala, revela prazer ao nível da descoberta do seu corpo através dos sentidos. Elabora as suas brincadeiras à volta da exploração de objetos através dos sentidos, da ação motora, e da manipulação.
De 2 a 7 anos, a simbologia surge com um papel fundamental nas brincadeiras, como as histórias, os fantoches, o desenho. O jogo simbólico oferece à criança a compreensão e a aprendizagem dos papéis sociais que fazem parte da sua cultura.
A partir dos 7 anos, as brincadeiras e jogos com regras tornam-se cruciais para o desenvolvimento de estratégias de tomada de decisões. A criança aprende a seguir regras, experimenta formas de comportamento e socializa, descobrindo o mundo à sua volta.[pb_builder]