Autora: Maria Isabel Bellaguarda Batista
O brincar em geral é uma atividade prazerosa essencial a existência do ser humano. De modo especial, as crianças tendem a investir naturalmente boa parte do seu tempo e de sua energia em brincadeiras, por meio das quais descobre o mundo e ao mesmo tempo descobre a si mesma.
Estudos comprovam que para um desenvolvimento saudável, a criança precisa de tempo ocioso, precisa brincar. Precisa do tempo para não fazer nada, tempo para sonhar, imaginar e criar.
A brincadeira coloca a criança na presença da possibilidade de reproduções de tudo o que existe em seu cotidiano, na natureza e nas relações humanas. É por meio das brincadeiras que ela tem a oportunidade de entender e desenvolver habilidades sociais importantes a sua convivência e aprendizagem como ser humano.
Deste modo, a possibilidade de recriar a realidade por meio do brincar contribui para o desenvolvimento de competências acadêmicas e sócio emocionais que ajudam a criança a: esperar sua vez quando estiverem em grupo; negociar e compreender os pontos de vista alheio; lidar com a angústia; adquirir maior tolerância à frustração; afirmar seu poder diante do grupo social; desenvolver sua criatividade; elevar auto estima e desinibição, entre outros elementos. Aprendem também, por meio das brincadeiras, várias habilidades que contribuirão para o seu sucesso na vida: 1) colaboração (trabalho em equipe); 2) conteúdo (matemática, ciência); 3) comunicação (oral e escrita); 4) criatividade, e 5) confiança em si e nos outros. Apresenta ainda a propriedade de prevenir dificuldades emocionais a longo prazo, tais como baixa auto-estima, depressão, ansiedade, dificuldades relacionais no trabalho e na vida social, entre outras.
Na atualidade observa-se que a grande maioria das crianças não encontra o tempo nem o espaço para brincar espontaneamente e construir sua afetividade de forma saudável, tendendo a apresentar comprometimentos desnecessários em sua jornada escolar, ou ainda, expressos por comportamentos inquietos, de isolamento, agressividade, desinteresse e sentimentos negativos com relação à vida. A criança que não brinca não aprende a simbolizar e a utilizar-se de representações para elaborar a realidade.
Ao brincar a criança substitui objetos e situações reais por outros que imagina, deseja ou necessita elaborar de forma positiva. Deste modo, aprende a manipulá-los e cria novas possibilidades de vivenciá-las. Muitas vezes a criança brincando de ser outro alguém, vai, pouco a pouco, sendo ela mesma. Experimenta, brincando com situações da vida diária, alternativas vivenciais sem o peso que a realidade impõe. Isto quer dizer que ressignifica positivamente acontecimentos cotidianos tais como dificuldades relacionais, medos, angustias, e fortalece outras, como o cuidado consigo mesma e com os outros.
Importante se faz abordar ainda os jogos eletrônicos como grandes atrações na atual brincadeira infantil. São propostos por meio de máquinas (televisão, Celulares, computadores, mini-games, Ipads), permitem um processo de aquisição da autonomia diferente. Possibilita que, desde cedo, as crianças participem do mundo adulto e vivenciem sentimentos da realidade social e emocional, mesmo que virtualmente. Em alguns deles as crianças podem construir cidades, planejar sua família, empregos e propriedades. Brincando de Deus elas decidem quem nasce, adoece, vive ou morre. Noutros elas podem ser bandidos, terrorista e até super-heróis (MELO, 2009).
Diante da capacidade de proporcionar experiências reais e realização de desejos impossíveis num mundo de fantasias, os jogos eletrônicos ganham espaço frente aos jogos de exercício e criação, pois alimentam ilusões onde os limites são facilmente ultrapassados, muitas vezes sem que as crianças, nem mesmo, precisem sair de suas cadeiras (MELO, 2009). Por outro lado, com a monitoria de educadores, tornam-se ferramentas atrativas que podem ser usados no intuito de estimular a aprendizagem e suas relações cognitivas.
Na atualidade, o lugar do brincar entre pais e filhos tem sido prejudicado não apenas pela falta de tempo dos pais, mas também pela terceirização desse momento para atividades eletrônicas ou pessoas que não promovem um encontro afetivo, prazeroso e próximo corporalmente entre a criança e seus pais.
Alguns pais, culpabilizados por esta falta de tempo, apresentam-se diante dos filhos de forma insegura e sem referências, tentam por compensação satisfazer a todos os desejos de seus filhos, evitando lidar com a frustração, elemento muitas vezes necessário a organização psíquica da criança. Por conseqüência, por um lado têm-se crianças carentes de afeto e necessidades básicas, e por outro, crianças exigindo que seus desejos sejam satisfeitos de forma desmedida e autoritária refletindo sua enorme insegurança.
Ressalta-se que é importante que os pais se incluam na brincadeira, que possam desfrutar de algum tempo para estar próximo, compartilhando com seus filhos o mundo por meio da imaginação, do dinamismo de suas ações, do prazer de criar e relembrar brincadeiras de seu tempo, ensinando e aprendendo com eles.
Sob esta perspectiva, a Psicomotricidade Relacional na escola utiliza como método de intervenção o brincar espontâneo. Neste contexto, o psicomotricista relacional é o parceiro simbólico da criança, e trabalha de modo preventivo, com o objetivo de ajudá-la a elaborar positivamente sua agressividade, seus medos, inibições e emoções, desenvolvendo formas mais saudáveis de se relacionar com ela mesma e com os outros (VIEIRA, BATISTA e LAPIERRE, 2013).
Bilbiografia:
MELO, M. E. L. C. M. (2009). A Psicomotricidade Relacional e o brincar na elaboração da agressividade infantil – Trabalho de Conclusão do Curso de Formação Especializada em Psicomotricidade Relacional do CIAR
VIEIRA, J. L., BATISTA, M. I. B., & LAPIERRE, A. (2013) Psicomotricidade Relacional: A teoria de uma prática. (2ª ed.). Curitiba: RDS Editora.
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