Pretendo neste artigo convidar o leitor a fazer uma reflexão sobre a missão do profissional da área da saúde, em especial do Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional, de forma que juntos possamos repensar a relação de ajuda em que estão envolvidos, em sua pratica com seus clientes, sob a ótica da Psicomotricidade Relacional, método que está sendo requisitado como uma ferramenta de trabalho que marca um diferencial significativo em seu modo de abordar as relações e o desenvolvimento humano.
Existe nos atendimentos clínicos ou ambulatoriais uma parte visível e concreta a ser cuidada pelo fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional que se apresenta através de um corpo orgânico, anatômico, fisiológico, biomecânico, que podemos facilmente perceber. Porém, sob a ótica relacional, acreditamos ser preciso reconhecer que o ser humano não se reduz a um corpo a ser “consertado” ou de uma mente a ser desenvolvida.
Nosso corpo é a nossa presença no mundo. É o lugar no qual vivemos, sentimos e percebemos, ou seja, é o lugar de nossa identidade. É a sede de todos os nossos investimentos afetivos positivos e negativos.
Cada vez mais neste novo milênio se faz urgente e necessário que lancemos um olhar além do sintoma para compreendermos o essencial que muitas vezes é invisível aos olhos.
Neste sentido, dizemos em Psicomotricidade Relacional que é preciso aprender a escutar aquilo que não é dito, levando em consideração que o sofrimento do corpo nos fala freqüentemente de um outro tipo de sofrimento que não encontra outra forma de expressão que não seja através da enfermidade corporal. Às vezes é preciso adoecer o corpo para pedir um pouco de cuidado, aquele cuidado que muitas vezes nos negamos a receber e muito mais a pedir.
Entretanto, para o profissional engajado neste tipo de relação de ajuda, além de ser capaz de fazer este tipo de escuta, é preciso aprender a responder também corporalmente, através de uma atitude de empatia corporal, sem a necessidade da utilização de palavras muitas vezes vazias de significados verdadeiros.
A comunicação corporal é uma comunicação carregada de valores e componentes emocionais, o gesto, o olhar, o tônus muscular falam de nossos sentimentos, de nossos medos, desejos e conflitos, isto é, da expressão do imaginário consciente e inconsciente. Consideramos que a gestualidade não é a simples reação nervosa a estímulos, e sim a resposta de um corpo ao mundo, ou seja, é a representação de vida em si mesma.
Nossa própria pratica profissional como psicomotricista relacional nos mostra reiteradamente, que a atitude morfológica é apenas o espelho que reflete a expressão da atitude psíquica diante da vida.
André Lapierre, criador da Psicomotricidade Relacional, em sua trajetória de descobertas deste método nos fala: Flexibilização articular, desenvolvimento seletivo de certos feixes musculares são apenas paliativos cuja influência sobre a morfoestática é provisória e aleatória. A suavização ou reeducação da atitude habitual não é condicionada pela força muscular, e sim pelo tônus da postura, o qual encontra-se relacionado com o tônus psicoafetivo, regulado pelos centros subcorticais, no nível inconsciente ( Lapierre, 2002).
Quantas vezes percebemos que dores corporais (lombalgias, dorsalgias, etc.) às vezes crônicas, são reflexos de sintomas funcionais, psicossomáticos, ou seja, de somatizações decorrentes de situações mal vividas a nível pessoal sócio-familiar ou profissional.
Neste sentido podemos escolher entre nos apaixonar e ser capaz de conviver com a possibilidade de relações de ajuda autênticas no dia a dia com nossos clientes, ou estabelecer uma relação vazia de afeto, de investimentos positivos, e apenas repetir modelos estereotipados de ações e comportamentos baseados numa visão organicista e mecanicista, se conformando em apenas seguir modelos médicos estáticos.
Acredito pessoalmente que não está aí a essência de nossa missão enquanto profissional que pretende promover a saúde e o bem estar daqueles que buscam os nossos serviços.
Acredito ainda, na necessidade cada vez maior de construirmos com o cliente, seja ele criança, adolescente, adulto ou idoso, um espaço relacional vivenciado, onde os elementos afetivos e emocionais tornem-se indispensáveis para a aquisição adequada de um bem estar realmente integrado.
É preciso ainda ressaltar uma outra face do problema que na imensa maioria das vezes permanece oculta, que diz respeito ao bem estar daquele que se dispõe a cuidar. Quantas vezes nos perguntamos ou mesmo dedicamos um tempo para percebermos nossas próprias dores, carências e necessidades, quantas vezes assumimos com coragem o nosso direito de pedir para sermos cuidados?
Relação é para nós algo muito mais amplo, muito mais ambicioso. Faz referência direta com o outro, com aquilo que comunicamos e que nos é comunicado, principalmente daquilo que não é dito através de palavras, da linguagem verbal, mas sim, dos dizeres corporais. Constatamos em nossa pratica que estas relações acontecem sempre em via de mão dupla, nosso corpo comunica ao corpo do outro ao mesmo tempo em que recebe suas mensagens. Desta forma não podemos nos eximir de nossas dores físicas ou emocionais nas relações que estabelecemos com nossos clientes, se fazendo necessário não somente aceitarmos este fato, mas acima de tudo investirmos na busca do nosso próprio bem estar.
A Psicomotricidade Relacional visa desenvolver e aprimorar os conceitos relacionados quanto ao enfoque da Globalidade Humana. Busca como suporte superar o dualismo cartesiano corpo/mente, enfatizando a importância da comunicação corporal, não apenas pela compreensão da organicidade de suas manifestações, mas essencialmente pelas relações psicofísicas e sócio-emocionais.
Preza por uma abordagem preventiva, com uma perspectiva qualitativa e, portanto, com ênfase na saúde, não na doença.
Vem oferecer ao profissional de saúde e/ou educação, condições para melhor adaptar-se às novas bases de competências do futuro e assim atingir a excelência na sua atuação pessoal e profissional. Atualmente é um diferencial na atuação profissional, tornando-se indispensável em escolas, clínicas, empresas, centros de segurança social, terceira idade, entre outros.
Desta forma, lhe convidamos a ousar e dar um passo decisivo para melhorar a qualidade da sua vida pessoal e profissional.
[author_box avatar=”yes” avatar_size=”96″ author_link=”no” ][pb_builder]