20 de agosto de 1989
Educação onde se é, ainda possível, melhorar a estrutura, modelá-la para uma melhor adaptação á realidade com menos defesas neuróticas. Na escola primária já é tarde, pois a personalidade encontra-se bastante estruturada. Neste período, a educação psicomotora toma contornos de terapia, em muitas das vezes, na medida, que, ela faz aparecer todo um passado fantástico que nunca foi levado em conta antes, André Lapierre considera como ideal uma educação psicomotora relacional com seqüência da creche a escola primária, com uma evolução progressiva para o afetivo ao relacional, da pulsão pelas etapas da simbolização progressiva.
Segundo alguns discípulos do especialista, depois de um estágio em Psicomotricidade Relacional, a pessoa passa por uma transformação, uma mudança que ocorre de dentro para fora e repercute nas relações, familiares, afetivas, profissionais. Conforme diz, Helena Maria Mourão Loureiro, uma das diretoras da Escola Recreio tem-se, outra dimensão do corpo, ele passa a integrar todas as relações. De acordo com a mesma, nos grupos de vivência, que funcionam á nível de, psicoprofilaxia na escola, observa-se, que as crianças que participam dos mesmos revelam uma linguagem verbal mais elaborada, uma possibilidade de falar dos sentimentos com liberdade, maior organização de grupo. Crianças com síndrome de Down conseguem, pela primeira vez, trabalhar a figura, distinguem desenhos de letras, pedem a hora de falar e apresentam modificações de comportamento.Um outro fato interessante, a riqueza do material utilizado no trabalho, permite que as vivências experimentadas no grupo sejam levadas como conteúdo pedagógicos para as salas de aula.
Não resolve comprar os livros de André Lapierre, adquirir o material necessário e pensar que se está fazendo experiência relacional. A formação dos profissionais é imprescindível, é com ela que o profissional vai aprender a decifrar a linguagem gestual, a controlar sua implicação, não misturando sua problemática do outro. O terapeuta entra inteiro no processo grupal, vive as angústias e ambivalências do grupo, mas tem que se resguardar para garantir o bom desempenho do trabalho. Tem que saber aproveitar as vivências para que estas sejam aplicadas ao processo pedagógico propriamente dito.
Em virtude destes fatos, André Lapierre considera que a educação psicomotora deveria fazer parte da formação de todos os educadores. A educação como um todo é uma das suas bases educacionais no aspecto cognitivo, ou seja, na educação que vem do saber, na instrução propriamente dita. Quando interrogado sobre a diferença entre educação e instrução, ele responde que, o ensino tem por objetivo transmitir conhecimentos, ele se dirige a dimensão intelectual da criança. Ela é uma parte da educação, mas não é toda a educação, falta ai a dimensão afetiva, emocional, relacional, cujas raízes se situam no universo fantasmático inconsciente. É daí, que vem motivações e bloqueios relacionados com a estrutura da personalidade. O ensino prepara para os exames, a educação prepara para a vida. Contrariamente, ao que se costuma acreditar, o êxito escolar não é forçosamente um critério de saúde mental. Este discurso não tem nada de original, é o da pedagogia dita moderna, mas existe uma distância entre o discurso e a realidade escolar. A Psicomotricidade Relacional tenta realmente efetivá-lo, mas tropeça nos preconceitos, nas resistências, tanto, a nível, de professores como, a nível, institucional.
Segundo o especialista, a partir do momento em que a Psicomotricidade Relacional fala em inconsciente é evidente que existe uma referência a teorias psicanalíticas de Freud e também Reich, embora isto não queira dizer que nela estejam aplicadas diretamente a psicanálise freudiana, reichiana ou outra. Ela tem sua especialidade uma autonomia conceitual. Existem também as contribuições de Piaget, Wallon, Rogers, Laig, Ajuriaguerra, Cooper, a etologia, a dinâmica de grupo, a psicossomática, não se trata de um, eclestino, esclarece, mas de uma síntese, de uma assimilação de conceitos que podem se integrar em uma estrutura coerente. A complexidade do trabalho a ser desenvolvido com pacientes ou mesmo em grupos considerados “normais’’, interessados em fazer a terapia, exige seis anos de treinamento intensivo. Normalmente com crianças são realizadas duas sessões semanais ou então uma única sessão de uma hora e meia. Com adultos, a terapia é feita em encontros que duram a semana inteira, três vezes ao ano. No mundo inteiro, existem nove terapeutas formados atuando em diferentes países.