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ENTREVISTA – O TDAH SOB O OLHAR DA PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL

Questões elaboradas por Débora de Oliveira Santiago, aluna do 8º Período do Curso de Pedagogia das Faculdades da Indústria – FAMEC, para sua pesquisa de campo do Trabalho de Conclusão de Curso, que tem como temática: “As contribuições da Psicomotricidade para o Processo de Aprendizagem de alunos com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH)”. 2014.

1 – Para você, de acordo com sua experiência na área e conhecimento acerca do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), quais as contribuições da Psicomotricidade no processo de aprendizagem dos alunos portadores desse transtorno?

Ana Elizabeth Luz Guerra: A Psicomotricidade Relacional é uma prática preventiva e terapêutica que oferece uma tempo e uma espaço em que o sujeito pode se expressar livremente pela via do brincar. Esta metodologia confere primazia à comunicação mediada pela corpo e ao movimento possibilitando a vivência motora, o deslocamento do corpo no espaço e no tempo, a manipulação dos objetos e a relação tônica e autêntica com o outro, permeada pelo prazer espontâneo e compartilhado. Essa experiência sinestésica confere ao sujeito e, em especial, à criança portadora de TDAH a possibilidade de perceber e conhecer o seu próprio corpo, suas atitudes e seus movimentos para, por fim, controlá-lo e ajustá-lo às necessidades do meio em que vive, principalmente no que se refere aos comportamentos hiperativos e ou desatentos. Com isso a criança vai adquirindo uma maior consciência de si e, consequentemente, dos outros e do mundo e se engaja com maior tranquilidade nos processos de aprendizagem.

2 – Você, durante sua profissão, já teve contato e realizou acompanhamentos com crianças portadoras do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade? Como foi essa experiência.

Ana Elizabeth Luz Guerra: Sim. Constantemente recebemos crianças portadoras de TDAH no Ciar.

Algumas crianças chegam para o atendimento com autoestima baixa, comportamentos agressivos, dificuldades com limites e com figuras de autoridade. Outros apresentam dificuldade de escutar o outro e de socialização. Há aqueles que assumem uma postura um pouco defensiva, pois funcionam conforme a lógica “rejeito primeiro com medo de ser rejeitado” e , dessa forma, evidenciam ainda mais as suas dificuldades e os comportamentos conflituosos. Lembro de uma criança que já havia passado por oito escolas particulares de Curitiba. Foi um caso que marcou profundamente a todos, desde o porteiro do prédio, pois a criança chegou, literalmente, chutando a todos. Foi necessária muita empatia, acolhimento, limite e intervenções baseadas na escuta tônica do corpo do outro. Foi um trabalho difícil, mas muito gratificante.

3 – Como a família ou escola busca o atendimento?

Ana Elizabeth Luz Guerra: Algumas famílias nos procuram por já conhecerem o Ciar e a Psicomotricidade Relacional. Outras crianças são encaminhadas, em geral, por médicos, psicopedagogos, psicólogos, pela própria escola e por amigos ou parentes da família da criança portadora de TDAH e que indicam o Ciar.

4 – Como funcionam os atendimentos à criança? Há acompanhamento familiar e junto à instituição de ensino que ela estuda? Como acontecem?

Ana Elizabeth Luz Guerra: Os atendimentos são, em geral, semanais e em grupo e respeitam a faixa etária da criança. Podemos fazer sessões individuais também quando, por exemplo, a criança está muito agressiva, pois isso pode comprometer a integridade do grupo. Porém o objetivo é sempre colocar a criança num grupo para que ela encontre um lugar harmônico neste grupo simbólico, e vá fazendo uma ponte com sua vida, ou seja, encontre também um lugar harmônico nos grupos sociais aos quais pertence.

A família é orientada periodicamente, pois necessita mudar junto com a família, caso contrário a mudança da criança não encontra lugar e nem significado na família.

Sempre que temos um criança em atendimento é necessário comunicar à escola que ela está sob acompanhamento, além disso as reuniões periódicas com a equipe pedagógica podem auxiliar o desenvolvimento da crianças, pois é possível obter informações importantes que podem nortear o profissional, ademais a escola, muitas vezes, necessita de orientações sobre como proceder com a  crianças no dia a dia.

5- Nos seus atendimentos, existem atividades que prevalecem no atendimento específico de crianças com TDAH? Quais?

Ana Elizabeth Luz Guerra: Trabalhamos acima de tudo com a pessoa, independente de suas características. É fundamental estabelecer um vínculo, uma relação transferencial para que a criança se engaje no processo. Outrossim a escuta é fundamental, pois o profissional baseia suas intervenções a partir daquilo que decodifica no outro. Por meio dessa leitura e decodificação simbólica o psicomotricista relacional poderá propor conteúdos, atividades, jogos e brincadeiras espontâneas que possam auxiliar a criança a encontrar respostas para a suas interrogações. As respostas simbólicas do psicomotricista relacional dependem daquilo que a criança expressa espontaneamente.

Além do que, frequentando as sessões de Psicomotricidade Relacional as crianças portadoras de TDAH podem ficar mais tranquilas, pois o brincar lhes proporciona o prazer necessário à vida, além disso a possibilidade de brincar e simbolizar positivamente a  agressividade pode lhes dar um novo sentido para à hiperatividade ao transformar a agitação em um dinamismo produtivo.

6 – Existiu algum caso que houve encaminhamentos para profissionais de outras áreas? Quais?

Ana Elizabeth Luz Guerra: Algumas vezes é necessário um trabalho multidisciplinar e o psicomotricista relacional poderá encaminhar a criança a um neuropediatra, a um psicopedagogo, a um psiquiatra infantil, a um fonoaudiólogo, entre outros. Muitas vezes são esses próprios profissionais nos encaminham as crianças.

7 – Caso tenha atendido crianças com TDAH, após esses atendimentos, quais os principais avanços percebidos?

Ana Elizabeth Luz Guerra: Maior atenção e concentração nas atividades escolares, mais respeito ao outro, maior capacidade de aceitar regras, maior habilidade social, maior conhecimento de si, de seu corpo e, consequentemente, do espaço do outro.

8 – Percebe a existência de prevalência de gêneros nos atendimentos de crianças com TDAH?

Ana Elizabeth Luz Guerra: Sim, recebemos muito crianças do sexo masculino com TDAH.

9 – Com base na sua formação em Psicomotricidade, em sua opinião, quais as atividades que mais contribuem para o aluno com TDAH?

Ana Elizabeth Luz Guerra: Aquelas em que a criança se sente aceita pelo que sabe fazer e não pelo que não sabe. Aquelas em que a criança pode ser reconhecida pelo outro e tem a possibilidade de ter conhecimento e consciência de seu corpo e de seu ser. Aquelas em que a criança encontra seu lugar e, portanto, não necessita mais invadir o espaço do outro. É isso que fazemos na Psicomotricidade Relacional

 

** Ana Elizabeth Luz Guerra é Doutoranda em Educação –ULL/Espanha, Mestre em Psicomotricidade Relacional – UE/Portugal, Especialista em Psicomotricidade Relacional – CIAR, Engenheira Química-UNICAP e Psicóloga-UTP.[pb_builder]

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